Seu departamento pode estar aqui!

Clique no link ao lado "Fale com o secretário" e solicite uma senha para que você possa participar do blog da igreja, escrevendo as novidades da sua congregação ou do seu departamento aqui!

Luiz Sayão – O Pós-Modernismo e a Música no Culto

Por Luiz Sayão. © Igreja Batista das Nações Unidas. Website:ibnu.com.br

Eu Não Sei

Recentemente li uma crítica feita aos calvinistas que eles costumam escapar de dilemas teológicos resultantes de sua própria lógica recorrendo ao conceito de “mistério”. Ou seja, os calvinistas, depois de se colocarem a si mesmos numa encruzilhada teológica, candidamente confessam que não sabem a resposta para a mesma.

A crítica em particular era sobre a doutrina da predestinação. Segundo a crítica, os calvinistas insistem que Deus decretou tudo que existe, mas quando chega o momento de explicar a existência do mal no mundo, a liberdade humana e a responsabilidade na evangelização, eles simplesmente dizem que não sabem a resposta para os dilemas lógicos criados: se Deus predestinou os que haveriam de ser salvos e condenados, como podemos responsabilizar os que rejeitam a mensagem do Evangelho? Os calvinistas, então, de acordo com a crítica, recorrem ao que é denominado de antinômio, a existência pacífica de duas proposições bíblicas aparentemente contraditórias que não podem ser harmonizadas pela lógica humana.


A verdade é que, além da soberania de Deus, temos outras doutrinas na mesma condição, como a definição clássica da Trindade, mantida não somente pelos calvinistas, mas pelo Cristianismo histórico em geral. Por um lado, ela afirma a existência de um único Deus. Por outro, afirma a existência de três Pessoas que são divinas, sem admitir a existência de três deuses.
Ao longo da história da Igreja vários tentaram resolver logicamente o dilema causado pela afirmação simultânea de duas verdades aparentemente incompatíveis. Quanto ao mistério da Trindade, as soluções invariavelmente correram na direção da negação da divindade de Cristo ou da personalidade e divindade do Espírito Santo; ou ainda, na direção da negação da existência de três Pessoas distintas. Todas essas tentativas sempre foram rechaçadas pela Igreja Cristã por negarem algum dos lados do antinômio.
Um outro exemplo foram as tentativas de resolver a tensão entre as duas naturezas de Cristo. Os gnósticos tendiam a negar a sua humanidade para poder manter a sua divindade. Já arianos, e mais tarde, liberais, negaram a sua divindade para manter a sua humanidade. Os conservadores, por sua vez, insistiram em manter as duas naturezas e confessar que não se pode saber como elas podem coexistir simultânea e plenamente numa única pessoa.
No caso em questão, as tentativas de solucionar o aparente dilema entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana sempre caminharam para a redução e negação da soberania de Deus ou, indo na outra direção, para a anulação da liberdade humana. No primeiro caso, temos os pelagianos e arminianos. No outro, temos os hipercalvinistas, que por suas posições deveriam mais ser chamados de “anticalvinistas”. Mais recentemente, os teólogos relacionais chegaram mesmo a negar a presciência de Deus pensando assim em resguardar a liberdade humana.
Há várias razões pelas quais eu resisto à tentação de descobrir a chave desses enigmas. A primeira e a mais importante é o fato que a Bíblia simplesmente apresenta vários fatos sem explicá-los. Ela afirma que há um Deus e que há três Pessoas que são Deus. Não nos dá nenhuma explicação sobre como isso pode acontecer, mesmo diante da aparente impossibilidade lógica do ponto de vista humano. Os próprios escritores bíblicos, inspirados por Deus, preferiram afirmar essas verdades lado a lado, sem elucidar a relação entre elas. Em seu sermão no dia de Pentecostes, Pedro afirma que a morte de Jesus foi predeterminada por Deus ao mesmo tempo em que responsabiliza os judeus por ela. Não há qualquer preocupação da parte de Pedro com o dilema lógico que ele cria: se Deus predeterminou a morte de Jesus, como se pode responsabilizar os judeus por tê-lo matado? Da mesma forma, Paulo, após tratar deste que é um dos mais famosos casos de antinomínia do Novo Testamento (predestinação e responsabilidade humana), reconhece a realidade de que os juízos de Deus são insondáveis e seus caminhos inescrutáveis (Rm 11.33).
A segunda razão é a natureza de Deus e a revelação que ele fez de si mesmo. Para mim, Deus está acima de nossa possibilidade plena de compreensão. Não estou concordando com os neo-ortodoxos que negam qualquer possibilidade de até se falar sobre Deus. Mas, é verdade que ninguém pode compreender Deus de forma exaustiva, completa e total. Dependemos da revelação que ele fez de si mesmo. Contudo, essa revelação, na natureza e especialmente nas Escrituras, mesmo suficiente, não é exaustiva. Não sendo exaustiva, ela se cala sobre diversos pontos – e entre eles estão o relacionamento lógico entre os pontos que compõem a doutrina da Trindade, da pessoa de Cristo e da soberania de Deus.
A terceira razão é que existe um pressuposto por detrás das tentativas feitas de explicar racionalmente os mistérios bíblicos, pressuposto esse que eu rejeito: que somente é verdadeiro aquilo que podemos entender. Não vou dizer que isso é exclusivamente fruto do Iluminismo do séc. XVII pois antes dele essa tendência já existia. O racionalismo acaba subordinando as Escrituras aos seus cânones. Prefiro o lema de Paulo, “levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Coríntios 10.5). Parece que os racionalistas esquecem que além de limitados em nosso entendimento por sermos criaturas finitas, somos limitados também por nossa pecaminosidade. É claro que mediante a regeneração e a iluminação do Espírito podemos entender salvadoramente aquilo que Deus nos revelou em sua Palavra. Contudo, não há promessas de que regenerados e iluminados descortinaremos todos os mistérios de Deus. A regeneração e a iluminação não nos tornam iguais a Deus.
Além dos mistérios mencionados, existem outros relacionados com a natureza de Deus e seus caminhos. Diante de todos eles, procuro calar-me onde os escritores bíblicos se calaram, após esgotar toda análise das partes do mistério que foram reveladas. Não estou dizendo que não podemos ponderar sobre o que a Bíblia não fala – mas que o façamos conscientes de que estamos apenas especulando, no bom sentido, e que os resultados dessas especulações não podem ser tomados como dogmas.
 
 

Descubra o seu ministério no Corpo de Cristo

O curso será ministrado aos sábados,
das 16h00 às 17h30.

Inscrições na secretaria da sede até o dia
16 de agosto.

Dons - Talentos - Missão - Ministério

Apostila - Certificado - Lanche

Início: 20 de agosto
Término: 24 de setembro

Valor: GRATUITO


Faça a sua inscrição deixando nos comentários o seu nome completo e o seu telefone de contato.

Não desperdice seu púlpito.

John Piper estará no Rio de Janeiro.

Assista ao vídeo e, querendo, inscreva-se para o evento em
http://voltemosaoevangelho.com​/blog/john-piper-brasil/



Somos uma grande farsa

“Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” Mt 15.7-9

Salvo alguns que não se dobraram a baal, somos todos uns canalhas. Eu, você, nós todos somos uma grande farsa, a maior de todas as farsas. E sabe por quê?

Organizamos nossas vidas de modo que tenhamos o mínimo dispêndio com a garantia do maior e melhor retorno. Fingimos que somos de outra estirpe, a dos filhos prediletos. Como filhos prediletos, queremos ser restituídos, queremos de volta o que é nosso. Rejeitamos todo mal, declaramos a nossa vitória, quebramos todas as correntes, exigimos nossa benção, sacudimos o inferno, não por sermos de Espírito libertário, muito menos altruístas; reagimos às ameaças negativas do “no mundo tereis aflições”como bons invólucros do espírito do capitalismo, do que é nosso e ninguém tasca, sendo essa nossa ética gospelizante. Dos nossos guetos, claustros protegidos por hostes angélicas imaginárias, estabelecemo-nos nas estatísticas do emergente mercado com produtos alinhados com o exigente gosto do consumidor evangélico. “Enfim uma linha de produtos com a nossa cara” declara a perua de Jesus.

A cruz da vergonha, símbolo de assombro, pedestal do maldito, foi estampada com alegres cores e as vendas alavancaram. O peixinho antes solitário na rabeira dos carros agora endossa Filipenses 4.13, assim, não se dá satisfação para o significado de um ao passo que ninguém se atenta para o versículo anterior do outro. Podemos então astutamente declarar “tudo posso naquele que me fortalece” depurando nossa ganância, afinando o mau senso de que temos o rei na barriga. Na cara dura agradecemos a Deus por nossos sonhos de consumo se realizarem, mesmo que uma pequena – ou grande dependendo da gula do fiel – barganha tenha sido requerida para a liberação das bênçãos. A campanha dos vinte e um dias de Daniel não costuma falhar com aqueles que são, digamos mais liberais nas contribuições. Jesus é nosso chapa, e Deus dá honra a quem tem honra é o ditado e pretexto.

Comer a carne e beber o sangue do Filho do Homem é demais para nosso paladar requintado, queremos os manjares de Nabucodonozor, basta obedecer o Cristo em outra instância – que não a de tomar a cruz diária – e comeremos do melhor desta terra. A promessa concreta que é “Cristo em nós esperança da glória”, que permeia a história do Antigo e Novo Testamento, foi dissolvida, perdeu seu caráter e virou qualquer coisa, quem tiver a mais criativa imaginação que molde e determine a sua. Deus é Deus de promessa “mer mão” vocifera em saltos histéricos o pastor que se gabou de comprar um jato pela “pequena bagatela” de
doze milhões de reais com o dinheiro sabe de quem?

O mandamento era ide e fazei discípulos, e o que fizemos? Cínico proselitismo. E sabe por quê? Porque somos uma farsa e já percebemos isso, nossa casa caiu. Então arregimentamos novas “almas” para compor uma sofisticada logística do entretenimento em que o evangelho é servido via fast food, e a igreja para não ir a bancarrota por causa de sua insipidez importa fórmulas de crescimento, franquias norte-americanas compondo o pacote camisetas, canecas, bonés, manuais de auto-ajuda e sermões previamente arranjados. Somos uma farsa denunciada por nossos projetos megalomaníacos, mega-templos – com loja de conveniência e chafariz –, marcha para Jesus – ufanismo quantitativo –, assistência social – desencargo de consciência e escape do sentimento de culpa por sermos avarentos e egoístas –, descaso com missões – o que importa são as almas –, discipulado – catecismo de cacoetes, novas manias e antigas neuroses.

Criamos uma bem guardada resistência às histórias de sofrimento alheio quando o assunto é padecer pela causa do Cristo. A emoção corre solta durante o testemunho do missionário, e dura até no máximo a primeira oração da próxima reunião, quando o mundo volta a girar em torno do centro da terra, o umbigo das nossas panças bem forradas. Histórias como da pequena Nina de dois anos que vive com seus pais missionários embrenhada nas matas entre os ribeirinhos do amazonas, que está vomitando a dias com suspeita de algum parasita ter tomado sua barriga, é exemplo sabe pra que? Sabe qual a grande lição que guardamos das crianças ribeirinhas que adquirem doenças desconhecidas por comerem peixes contaminados por não terem outra opção? Que Deus é bondoso conosco e nos garante comida limpa e mesa farta – afinal o justo não mendiga o pão. Que esse é um forte indício para acolhermos nossos bens de consumo e agradecer a Deus por nossos filhos estarem a salvo dos perigos da pobreza.

No caso de sermos acusados por nossa própria consciência – o juiz que Deus nos colocou no íntimo – de que algo nessa trama não se harmoniza com as palavras do Nazareno, somos confortados com saídas bem satisfatórias, tipo: Deus tem um propósito nisso, ou, foram predestinados para esse fim, ou ainda, não chegou o tempo de Deus na vida desses coitados.
O drama de Nina é um dentre tantos dramas contados por aí sobre os que pagam um alto preço por proclamar a rude cruz com todas as suas implicações, que deveria deixar-nos envergonhados por habitarmos em belas e espaçosas casas, por termos comida boa, roupa nova, plano de saúde, igreja com banco confortável, projetos, sonhos, canecas, bonés e camisas floridas estilo Rick Warren.

Deveríamos nos arrepender por comermos contra-filé e tomarmos Coca diet enquanto nas eiras do norte e nordeste comunidades inteiras comem bife de cacto não sem antes beber a água. Nossa cara deveria enrubescer por um missionário ter seu sustento – que é ínfimo, migalhas que caem da mesa de seus donos – ser desconsiderado como prioridade porque outros projetos institucionais são de maior importância e urgência. Por projetos institucionais entenda a construção do mega-templo, o aumento do salário de parlamentar do pastor, o gasto com propaganda midiática da denominação, a manutenção do conforto dominical do contribuinte-consumidor, importação de produtos da franquia, etc.

Julgamos ser assunto de primeira ordem a conservação do excedente dos nossos luxos e prazeres inúteis. Morreremos pela boca, já que com a boca distorcemos o discurso do Cristo para satisfazer nossos prazeres e deleites quando pedimos o que não se deve pedir. Pedimos mal e nos prostramos sobre a proposta do tentador que habita em nós. Queremos tudo e tudo nos será dado se prostrados adorarmos o lado enegrecido da nossa alma. Desconfiados de que amanhã o maná não cairá, estocamos hoje o da semana e quando percebemos que a sobra azedou fazemos caridade com a comida que já não presta. Não há em nosso discurso e prática, equivalente lingüístico nem espaço físico para o nós, tampouco para o nosso. É o meu milagre, a minha vitória, a minha benção, eu, meu, eu, meu, meu, minha, meu, minha... É só crer e não duvidar que hoje o meu milagre vai chegar.

Do conselho de Paulo “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” só consideramos o que do outro eu também almejo, seus bens de consumo. Com a cara lavada somos gratos a Deus por nosso padrão de vida estar se elevando ao passo que indiretamente afirmamos que Deus faz acepção de pessoas, já que pra mim aqui no sudeste é prometido uma terra que mana leite e mel, enquanto no norte e nordeste outros comem cacto não sem antes beber a água.

Somos a maior farsa de todas, pois, corrompemos a maior história de todas. Por conveniência dizemos coisas que o Cristo não disse e omitimos outras que ele disse. Caso nossa estabilidade e tranqüilidade – que com muito custo conquistamos domingo a pós domingo, mensagem após mensagem, louvor após louvor, dízimo após dízimo – seja de alguma forma ameaçada sacamos logo de uma fala de Jesus e entoamos um mântra para amarrar todo mal. Assim proclamamos, por uma questão muito mais de fazer novos prosélitos e mostrar que detemos o monopólio da verdade do que propriamente amor ao outro, um Jesus que nunca conhecemos.

Diógenes circula com uma lanterna no meio dos crentes em pleno meio dia procurando algum sábio sem que o possa achar.
Os sábios não estão entre nós, estão existencialmente no exílio, onde até as pedras estão clamando. Elias não fazia a menor idéia, mas sete mil ainda não tinham se dobrado, pois estes estavam fora do grande eixo, não possuíam nome nem imagem. Deus não esta no templo. Deus clama no deserto e o batista lhe empresta a voz.

O sal se tornou insípido. A luz está colocada de baixo do alqueire. A casa foi construída na areia. O Cristo está à porta, mas não lhe abrimos passagem. E juramos de pé junto com base nas estatísticas que estamos certos.

O argumento da caixa (Luis Henrique de Paula)

“Não coloque Deus numa caixa!” é um argumento bem comum. Ele geralmente aparece para confrontar a possibilidade de sabermos de forma clara e inteligível quem é Deus e outras implicações desse conhecimento. Serve como uma tentativa de relativizar, ou tornar incertas as definições sobre quem é Deus ou Jesus, qual a mensagem do evangelho, como ele deve ser pregado, doutrinas centrais da fé, entre tantas outras verdades e suas consequências para a vida cristã… Noutro sentido, algumas pessoas o utilizam para dizer que Deus é muito maior que a Bíblia. E isso é verdade, pois Ele é eterno e infinito. Mas há também um grande risco nessa afirmação. Pois tudo o que podemos saber sobre Deus e o nosso relacionamento com Ele está nas Escrituras e negar a possibilidade de tal conhecimento é negar ao próprio Deus. Ou ainda, dizer que Deus pode ser ou agir de maneira contrária àquilo que revela é chamá-lo de insano.
Algumas pessoas bem intencionadas às vezes utilizam o argumento da caixa. Mas quase sempre ele serve apenas para contradizer um dos aspectos mais importantes da teologia e vida cristã: a cognoscibilidade de Deus. Apesar de complicado o termo significa que apesar de Deus ser eterno e infinito ele pode ser conhecido por seres humanos, criados e finitos, naquilo que se revela. Ou seja, no seu testemunho sobre si mesmo na Bíblia. Um texto chave para assumirmos essa possibilidade é Deuteronômio 29.29 que diz:
“As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”.
Certa vez, ao tentar alertar uma pessoa sobre possíveis riscos na doutrina de um pastor liberal muito conhecido por seus vídeos metafóricos disponíveis no YouTube, recebi de volta o “argumento de Deus na caixa”. A minha argumentação era muito simples, a de que ele não acreditava na Bíblia – e isso era algo declarado em um dos seus livros – e, portanto, era fácil perceber que ele, como todo bom liberal, rejeitava as doutrinas centrais da fé cristã como regeneração, arrependimento e fé em Cristo somente por exemplo. A bíblia, para ele, não foi escrita por inspiração divina, e as Escrituras na melhor das hipóteses são como as Fábulas de Esopo[¹]. Nenhum dos seus personagens precisa ser necessariamente real, nem suas histórias, muito menos as doutrinas, a única finalidade da Bíblia, assim como das Fabulas de Esopo, é conseguir por analogia alcançar alguma lição de moral que torne o homem melhor. E isso não é evangelho. A pessoa, que ficou profundamente ofendida, pensou que eu estava encaixotando Deus e em pouco tempo postou um texto imenso em seu blog utilizando o argumento em questão. De maneira geral, esse pensamento é fruto principalmente da mentalidade anti-intelectual dessa geração.
A comum utilização desse chavão remete a um problema da teoria do conhecimento moderna, a epistemologia relativista, que assume a impossibilidade da existência de uma verdade, ou de um ‘certo’ absoluto. É uma contradição óbvia: ao declarar que não existe verdade absoluta já se está afirmando uma verdade absoluta. Se o relativismo fosse verdadeiro seria falso. Muitos cristãos por ignorância assumem tal linha de pensamento irracional como verdade para sua fé. Mas o relativismo é apenas uma variação de ceticismo. Enquanto o cético declara que não há nenhuma verdade em hipótese alguma, o relativista declara que não existe uma ‘verdade’ absoluta, mas talvez várias, mesmo que se contradigam.
Questões doutrinárias são muitas vezes negligenciadas e relativizadas sob o argumento de Deus na caixa. Alguns vão mais longe e dizem que não estão preocupados com doutrina, pois o que importa mesmo é amar Jesus e anunciá-lo. O que essas pessoas precisam responder é: Quem é Jesus? O que é amor? Por que alguém deve amá-lo? De onde saiu essa informação? E como alguém sabe que ela é verdadeira? Replicar começando com “eu acho” apenas cria mais problemas. Existem bilhões de pessoas no mundo e cada uma com “achismos” bem particulares. Os cristãos têm nesse aspecto uma arma poderosa e penetrante, a Palavra de Deus, clara e objetiva, apta para dividir qualquer afirmação sem fundamentação e contraditória ao meio (Hebreus 4:12). Mas muitos resolvem desdenhar da Biblia e de suas afirmações comparando-a com uma caixa.
Podemos perceber que não é em vão que é Jesus é declarado como a Palavra Viva no cristianismo. A principal defesa dos cristãos nos primeiros séculos contra heresias e distorções foi preservar dois pilares fundamentais e inseparáveis: a Palavra Viva e a Palavra Revelada não se dissociam. Quem diz amar a Jesus necessariamente ama as Escrituras, quem diz amar a Deus necessariamente ama a sua Palavra. Tal relação se conforma com palavras de Jesus em João 5:39, com a declaração de Filipe em João 1:45, com Lucas 24:27, entre outros tantos textos. Faltaria aqui espaço para considerar as declarações de amor do Salmista pela revelação de Deus, suas leis e seus estatutos no Salmo 119.
Logo, qualquer outra informação fora dessa “caixa”, que a contradiga, diminua seu valor, ou negue sua suficiência é de procedência maligna. Tanto a Bíblia como Cristo reivindicam autoridade e exclusividade. Quem ama a Jesus vai passar o resto da vida meditando em Sua Palavra – e ainda assim sem chegar ao perfeito conhecimento da Escrituras e de suas implicações. Perceba que o próprio termo “caixa” subestima a profundidade e seriedade da Palavra de Deus, suas doutrinas e tudo aquilo que podemos conhecer da pessoa de Cristo.
É óbvio que vamos passar a eternidade toda nos aprofundando no conhecimento do nosso Senhor, mesmo assim sem chegar a um conhecimento exaustivo. Tal impossibilidade para seres criados em conhecer exaustivamente um ser Eterno os teólogos chamam de incompreensibilidade, e também é uma implicação de Deuteronômio 29.29. Mas no presente momento tudo o que podemos e precisamos saber sobre Deus e nossa relação com Ele está nas Escrituras e apenas nelas.
O conhecimento de Deus só é possível pois Ele mesmo se revela, e tanto a Palavra Viva quanto a Revelada coincidem em um só, no conhecimento de um mesmo Deus, o Deus Vivo. Não existe modo de crescer no conhecimento de Deus que não seja pela Escritura. Qualquer conhecimento de Jesus que não esteja conformado a Bíblia é mentiroso. Qualquer negação de algum aspecto da Palavra de Deus é por implicação negação de algum aspecto do conhecimento de Cristo.
Para os cristãos o melhor a fazer seria evitar o “argumento da caixa”, que sempre vai desdenhar daquilo que deveríamos ficar alegres, maravilhados e ainda temer e tremer diante (Salmo 119:2,16,18; Is 66:2).

Disponível em http://voltemosaoevangelho.com/blog/2011/01/luis-henrique-de-paula-o-argumento-da-caixa/