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Deus repousava na manjedoura (Ricardo Gondim)

Há algum tempo, intrigado, comecei a questionar porque Jesus Cristo escandalizou fariseus, saduceus e doutores da lei. Nenhuma novidade me ocorreu: há séculos os judeus aguardavam o Messias. Eles viviam na expectativa política de que um Ungido se levantaria em nome de Deus. Nos setores mais politizados, o Messias viria como o grande libertador – uma encarnação melhorada e glorificada de Moisés; um Dom Sebastião dos tempos antigos. Para segmentos religiosos ortodoxos, o Messias chegaria para renovar os princípios da Torá. O cumprimento da Lei representaria uma renovação espiritual que resgataria o povo para um novo tempo.

Mas além dessa grande espera, Paulo também diz que Jesus foi loucura para os gregos. O Nazareno se revelou um retumbante fracasso porque nunca deixou colar nele as expectativas judaicas e depois, nem as gregas, sobre as ações da divindade. Via-se claramente que em Jesus Deus não se parecia com o Movedor Imóvel de Aristóteles. Ele colocava teologia e filosofia de ponta cabeça.

Se o Deus dos fariseus zelava pelo cumprimento estrito da lei, Jesus a tornava flexível pela misericórdia. Quando perdoou a mulher apanhada no próprio ato do adultério, deixou claro que o poder do amor dobra a rigidez da lei: “Onde estão os teus acusadores. Eu não te condeno, vá em paz e não peques mais”. Nos casos da siro-fenícia, do centurião romano, da “impura” devido a uma menstruação crônica, do endemoninhado gadareno, do cego da calçada, fica claro que qualquer um pode aproximar-se de Deus sem exigências ou protocolos religiosos. Quando Jesus estava por perto, esvaziava-se a ideia de “não-eleito”.

Jesus não comparou Deus a um fiscal punitivo, mas a um pai machucado. No alpendre, enquanto espera a volta do filho perdido, os olhos úmidos do pai eram os olhos de Deus. Sim, mesmo desolado, o velho corre ao encontro do filho sujo, mal cheiroso e o cobre de beijos.

Ricardo Peter intuiu corretamente o porquê do ódio dos fariseus contra Jesus:

Os fariseus começaram a perceber que Jesus estava mudando radicalmente a maneira de entender quem é Deus. Este Deus teria podido provocar confusão e dispersão entre as pessoas religiosas. O comportamento do Deus anunciado por Jesus, do Deus que demonstra um amor incondicionado pelos pecadores, começava a colocar o Deus dos fariseus na sombra. Tinha início uma luta de ‘Deus contra Deus.

A religião judaica antecipara um Deus mais forte que os antigos baalins, que causaram tanto problema. Jesus andou na contramão, ele tomou sobre si a fragilidade dos serviçais. Os conteúdos de sua causa não lidavam com poder, mas com serviço. Os tempos exigiam um líder que convocasse exércitos com a força letal superior às legiões romanas. Mas o Galileu preferia colocar uma criança no colo e dizer: “Dos tais é o Reino de Deus”.

A ambição era posicionar Israel como nação líder. O messias, certamente, vingaria séculos de opressão impostos por egípcios, persas, gregos e romanos. Mas eis que ele abriu o rolo da lei numa sinagoga e leu: “O Espírito do Senhor está sobre mim e ele me ungiu para pregar boas notícias aos pobres”. Se um homem assim, radicalmente humano, comprometido com a escória do mundo, se dizia a expressa imagem de Deus, tal homem precisava ser assassinado. Um Deus fraco não servia aos interesses da religião – como ainda não serve.

Além desta enorme decepção entre os semitas, os gregos também se horrorizaram. Se Deus encarnou assim, como sustentar as ideias de Aristóteles? Jesus não se assemelhava em nada com o conceito de Deus como “Ato Puro” ou como “Motor Imóvel”. O Rabi de Cafarnaum se movia de “viscerais afetos” por uma viúva a caminho de enterrar o filho, chorava diante da sepultura do amigo (a dor de homens e de mulheres dói em Deus; Isaías é enfático- 63.9 -: “Em toda a angústia deles, foi ele angustiado”.), irritava-se quando a religião oprimia e se deixava molhar pelas lágrimas de uma prostituta. Deus não se mostrara apático.

Volto a Ricardo Peter com sua intuição sobre a revelação de Deus que Jesus brindou o mundo:

O Deus de Jesus assume o humano a tal ponto que liberta o homem da exigência de ser como Deus. Deus contém em si, agora o máximo de humanidade. Deus encontra-se imerso no humano. O ‘Reino’ de Jesus não requer seres excepcionais, melhores que o ‘resto dos homens’, que se preocupam em ser por eles contaminados.

Mas, o que verdadeiramente escandalizou no Deus que Jesus revelava foi sua tremenda inconsistência. Como assim, Deus inconstante? Misericórdia é sempre uma tremenda inconstância. A inconsistência de Deus em reverter sentenças, em anular destinos, em refazer histórias, em anular tragédias, foi a marca mais exuberante da vida de Cristo. Até o fato de seu ensino ser vazio de dogmatismos, desestabilizava qualquer teologia. E talvez tenha sido este o pingo que entornou a taça da ira dos fariseus: o Deus inabalável, rigoroso e severo do Antigo Testamento estava ausente nas palavras, gestos e atitudes do filho de Maria.

Ainda hoje, os que distinguem entre o Deus dos fariseus e o Deus de Jesus acharão boas razões para decretar sua morte. O reino que ele inaugurou entre os homens não encontra paralelo com os reinos deste mundo. Seus ensinos não são codificáveis.

Portanto, o Deus que nasceu em uma manjedoura continuará despercebido dos poderosos. Ele só será notado nas realidades singelas e pequenas: grãos de mostarda, meninos e meninas, ovelhas indefesas, desempregados em calçadas, servos inúteis, indignos, filhos pródigos, prostitutas, leprosos, cegos, mendigos, estrangeiros, soldados e exorcistas informais.

Deus poderia escolher muitas maneiras para mostrar-se real, mas preferiu nascer em uma periferia esquecida; optou viver de um jeito que pode ser, poeticamente, comparado ao de um cordeiro.

Depois de séculos, ainda vale a pena celebrar um natal desses.

Soli Deo Gloria.
20-12-10

Sábado - 13 de novembro de 2010



Mensagem pregada no culto de aniversário de 46 anos do templo sede.

Avisos

Amados irmãos,


O Pastor Anselmo informa a todos a programação dos cultos que serão realizados no templo sede no próximo domingo dia 07/11:

1º Culto (17h00 - 18h50)
Direção: Pb. Amós
Preleção: Pr. Anselmo Ferreira
Grupos: Irmãs, Adolescentes, Orquestra.
2º Culto (19h00 - 21h00)
Direção: Pb. Júlio
Preleção: Não informado
Grupo: Juventude Renascer


O pastor ainda convida a todos para a festividade do Brilho Celeste que será dia 6 de Novembro as 19h.

Avisos

Amados irmãos,


O Pastor Anselmo informa a todos a programação dos cultos que serão realizados no templo sede no próximo domingo dia 31/10:

1º Culto (17h00 - 18h50)
Direção: Pb. Deusdete
Preleção: Pr. Anselmo Ferreira
Grupo: adolescentes e juventude

2º Culto (19h00 - 21h00)
Direção: Dc. Willian
Preleção: Andressa
Grupo: Irmãs e Orquestra


O pastor ainda informa que convocanda todo o campo para a campanha evangelística que será no dia 2 de Novembro ás 19h, maiores detalhes serão divulgados aqui no blog.

Nesse dia (02/11) não haverá o culto de membro e todos devem colaborar com o trabalho de missões a ser realizado neste dia.

Avisos

Amados irmãos,


O Pastor Anselmo informa a todos a programação dos cultos que serão realizados no templo sede no próximo domingo dia 17/10:

1º Culto (17h00 - 16h50)
Direção: Pb. Deusdete
Preleção: Pr. Anselmo

2º Culto (19h00 - 21h00)
Direção: Rosângela
Preleção: Não informado

Ufanismos, messianismos e outras mentiras

O tempo tudo destrói. O vento da história cobre todas as coisas de poeira. Impérios, outrora avassaladores, hoje entediam alunos secundaristas, que só precisam conhecê-los para passar de ano. Napoleão, o temido imperador francês, virou nome de cachorro. Na mitologia, Kronos, o deus do tempo, inclemente, devorava seus filhos.

O escritor português Vergílio Ferreira percebeu que muitos tratados são escritos sobre a infância, juventude e idade adulta. E em todos se “fala de ir” -- ir para o futuro. Desejos, sonhos e ambições impulsionam a vida. Mas para qual futuro? Vergílio Ferreira conclui que esse tal “ir” é rumar para a velhice; “velhice é estar”. De fato, velhice é a idade em que passamos o restante da vida. E, existencialmente, não há muita opção: ou se morre cedo, como um Camelot, ou se enfrenta a decrepitude dos senis.

Embora não seja oficialmente idoso -- ainda faltam alguns anos --, eu começo a me preparar para os derradeiros anos. Não quero viver os próximos anos de minha vida como meros sobejos dos bons tempos que já vivi. Reafirmo que ninguém é velho enquanto estiver disposto a aprender. Eu quero me manter flexível na madureza. Sei que nada sei.

Sobretudo, quero aprender a despojar-me de falsas onipotências. Já confiei em minha capacidade de ordenar a vida. Imaginava que verdades e princípios me blindariam contra decepções, tristezas e contrapés existenciais. Porém, como disse Chico Buarque, veio a Roda Viva e carregou o destino pra lá. Padeci desnecessariamente porque superestimei a minha capacidade de anular contingências existenciais.

Acreditei na mensagem religiosa que prometia engrenar o cotidiano, garantindo vitória sobre vitória. Esforcei-me o quanto pude para tornar a obediência capaz de livrar-me de tribulações. Eu buscava a excelência como chave para o dia-a-dia encapsulado na mais pura felicidade. Depois de vários tombos, inúmeras bobagens, enormes desapontamentos e grandes decepções, acordei. A vida não se deixa encabrestar. Vi que nunca havia conseguido adequar-me ao superego exigente que carregava dentro de mim. Eu me contemplava em espelhos distorcidos. A imagem que enxergava sempre foi maior do que eu mesmo. A juventude engana, mas a meia-idade esvazia os delirantes de seus devaneios.

Devido à minha onipotência, idealizei auditórios. Acreditei que a minha oratória seria capaz de arrebatar multidões. As longas horas em que preparei sermões representavam uma capacitação especial para ser uma extensão concreta e real do poder de Deus. Eu não admitia a minha ineficácia em converter, transformar, santificar. Confundi talentos naturais com “eleição”; minha habilidade com a oratória me inebriava. Mas, enquanto meus cabelos pratearam, dei-me conta que muitos meninos e meninas de nossa comunidade haviam desistido da fé. Minha eloquência não se mostrara tão infalível quanto eu supunha.

Muitas culpas nascem da falsa onipotência. Por me sentir com a responsabilidade de carregar o mundo nas costas, raramente me permitia vivenciar atividades que não redundassem no avanço da missão. Lazer, só para recompor, manter o vigor, e voltar a trabalhar. Poesia, nem pensar; poesia não ajuda a argumentar. Contente, acostumei-me a encaixar passeios em viagens missionárias. Considerava o convite para falar em uma conferência uma boa ocasião para tirar férias.

O simples correr dos anos bastou para minar tantos ufanismos juvenis. Aprendi a cantar com Almir Sater: “Ando devagar porque já tive pressa/ E levo esse sorriso/porque já chorei demais/ Hoje me sinto mais forte,/ mais feliz quem sabe/ Eu só levo a certeza de que/ muito pouco eu sei, eu nada sei”.

Pretendo seguir o restante da jornada, despretensiosamente. Sem arroubos, oferecer minhas frágeis intuições. Espero aprender como “mais me gloriar nas fraquezas” e poder repetir o apóstolo Paulo: “Porque, quando sou fraco, então é que sou forte” (2Co 12.10).

Começo a reconhecer limites e a dar de ombros ao imperativo religioso de superar a humanidade. Não sou angelical. Já não me considero um conquistador de utopias. Mantenho as utopias, mas as tenho como meras alavancas de minhas iniciativas. Não me considero apto a concretizá-las.

As minhas despedidas foram trágicas, meus lutos, inconsoláveis e minhas decepções, amargas. Aceito que a vida é frágil. Sei que não sou autossuficiente. No reconhecimento de minha debilidade, reaprendo a ser grato; gratidão nasce de uma memória que não é soberba. Sou agradecido por todos os que já me ajudaram; todos encarnaram o amor de Deus e eu quero mantê-los na lista das bênçãos recebidas.

O tempo que tudo desgasta, paradoxalmente, aviva a pergunta do profeta Miqueias, a que eu me antecipo a responder sim: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom, e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?” (Mq 6.8).

Ricardo Gondim

O mistério de nossa humanidade

Como idealizei as pessoas que participaram de minha vida! Quando eu era criança, papai parecia inabalável. Eu o via grande; suas mãos eram fortes, seus passos, decididos.

Mais tarde, elegi ícones nos esportes. Depois, na religião. Mas um dia meu velho estava bastante doente, alquebrado pela Síndrome de Alzheimer, e eu precisei descê-lo dentro de uma lona de quatro alças pelas escadas do seu apartamento. Do Eródoto José Rodrigues sobrava muito pouco. Enquanto descíamos, vi seu corpo balançando, decrépito e magro. A rede empunhada por quatro homens o jogava de um lado para outro; a valsa era macabra. Lembrei de quando segurava sua mão e me sentia amparado. A decadência física de meu pai escancarava quão efêmeros nós somos. Daquele dia em diante passei a repetir: ninguém é inabalável em sua subjetividade emocional; as mais sólidas convicções intelectuais sofrem abalos; nenhuma pretensão moral é de aço inoxidável.

Não existem monstros ou santos. Todos somos flamas oscilantes. Carregamos sombras na alma. Não passamos da combinação ingênua de noviços, ineptos em abraçar o bem, e de bandoleiros, hesitantes na prática do mal.

Viver consiste no desafio de alargar o coração e deixar que réstias de luz iluminem as nossas sombras. Não permitamos que trevas se alastrem dentro da gente. Demônios tenebrosos se multiplicam em ambientes lúgubres. No alto da colina da ilha chamada vida, sejamos lanterneiros, sempre a projetar nosso farol na direção de algum viajante perdido. Não esqueçamos: só se credencia a morar no céu quem, na terra, não abandonou o mandato de ser luz.

Fujamos do ar viciado do negativismo. Aprendamos a talhar nossa história sem nos deixar destruir pela perversidade do mundo. Perseveremos em fazer o bem. Os cínicos desistem da lida; os pessimistas ajudam a empurrar a história para o desespero; e os neofundamentalistas tentam fazer nascer, a fórcipes, um mundo desde as suas verdades. Forjemos a nossa humanidade com a constatação de que somos limitados. Esvaziemos a arrogância de ter toda a verdade. A verdade reside na democrática convivência dos povos.

Reconheçamos que cada indivíduo é um universo; suas relações sociais são infinitas. Não tentemos imobilizar a dinâmica da cultura ou da ética. Bem e mal se transformam velozmente. A tarefa de joeirar virtude e vício é complexa. Não há códigos suficientes que abarquem todas as nuanças da vida. Crescemos quando nos abrimos para uma coexistência inclusiva, sem preconceitos e sem ódios. Viver é amadurecer a arte do diálogo. Ao caminharmos na senda do amor, reconheceremos Deus no rosto do próximo.

Os que almejam humanidade fazem escolhas responsáveis; só eles discernem que o futuro jaz, latente, nos grãos plantados hoje. Só germinarão fraternidade e paz quando justiça for semeada. As máquinas de guerra devem ser desmontadas para que, logo, o arado substitua a espada e o cordeiro não tema pastar ao lado do leão.

Humanidade é obra que só pertence a nós, os humanos. Então, que se abandone a ideia de que o bem ressurgirá da ganância, do consumismo, do individualismo e da soberba.

Ergamos a nossa humanidade sempre cientes de nossa pequenez. Sem a soberba dos falsos campeões, celebremos cada encontro. Valorizemos quem amamos. Acolhamos os discriminados, os deficientes, os esquecidos. Contemplemos a história como artesãos que limam o ouro. Defendamos o direito, demos as mãos ao pobre e aguardemos: breve brilhará o sol da justiça, trazendo cura sob suas asas.

Soli Deo Gloria.
30-08-10

Ricardo Gondim
disponível em http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=61&sg=0&id=1081

Para reflexão em época de eleições

Capitalismo, socialismo, alienação e o capeta

Cada discurso de libertação traz dentro de si a semente de uma nova servidão; em cada esforço de justiça está encapsulada a ameaça – talvez a promessa – de uma nova injustiça jamais sonhada.

Quando pisou o palco da história, na esteira da Reforma e do Renascimento, o capitalismo representou a implantação no âmbito econômico – e portanto na vida real – dos ideais de liberdade e de igualdade articulados pelo Iluminismo e adotados pela Revolução Francesa.

O capitalismo salvou o mundo das estruturas do feudalismo, que dividiam a sociedade em compartimentos estanques dos quais ninguém podia sonhar escapar. No mundo medieval, pré-capitalista, os pobres nasciam pobres e morriam pobres, enquanto os nobres nasciam nobres e viviam ricos. Esse estado de coisas era mantido, por um lado, pela força bruta e pela tradição; por outro lado, dependia da intimidação e do aval fornecido pelo clero e pelas demais estruturas da igreja medieval.

O sistema estava em vigor há quase mil anos e nada parecia ser capaz de ameaçar a sua supremacia, até que uma série de novidades mais ou menos interligadas (entre elas a invenção da imprensa, a divulgação dos clássicos gregos e a própria Reforma) acabou injetando na sociedade uma série de noções revolucionárias. O Humanismo fez com que o homem baixasse os olhos do céu pintado do teto da igreja e olhasse para aquela belíssima criatura no espelho; inspirado por sua vez no que viu no rosto do homem, o Iluminismo desenhou os ideais de cidadania, igualdade e direitos inalienáveis.

As revoluções constitucionais e republicanas representaram a aplicação desses ideais nos contextos das nações, mas foi preciso o dinheiro – isto é, a ascensão do capitalismo – para legitimar o sonho democrático de mobilidade social no mundo real. Porque, com o capitalismo, estava aparentemente tudo resolvido; o mundo era finalmente um lugar justo, em que qualquer um podia enriquecer e ascender a escala social pelos seus próprios méritos. As hierarquias tradicionais perdiam a sua validade num mundo conduzido por um mercado cada vez mais exigente e influente, inteiramente pronto a premiar qualquer um que satisfizesse os seus caprichos ou – talvez melhor – fosse capaz de lhe oferecer caprichos novos.

Neste novo mundo o menos sofisticado dos mercadores podia pisar o mais requintado dos salões, demonstrando com o tilintar de moedas esse seu direito. O valor de um notável foi transferido da pureza do seu sangue para o saldo da sua conta bancária, onde permanece até hoje.

Em muitos sentidos o capitalismo foi portanto um milagre e uma manifesta vitória, os quais ainda não nos cansamos de celebrar. Serviu para denunciar mecanismos de dominação que eram tidos como evidentes e naturais mas que eram, na realidade, meras fabricações ideológicas. Como todos os discursos, apresentavam-se como sãos e bem-intencionados, porém serviam para sustentar um estado de coisas muito injusto e artificial. A desigualdade requer uma ideologia para manter seu perverso equilíbrio, e as noções medievais de honra, tradição, autoridade religiosa, sangue e hierarquia (entre outras) garantiam que o povo comum continuasse sendo explorado, ao mesmo tempo em que a renda e o poder se mantinham concentrados nas mãos seletas da nobreza e do clero.

Ainda mais do que as revoluções nacionais, a ascensão do capitalismo alterou para sempre o tecido dessa realidade, servindo para expurgar e anular dos anais da aceitabilidade condutas e opiniões que eram anteriormente tido como norma e decência, como o próprio curso natural das coisas. Ao denunciar e reverter o caráter artificial dos scripts que faziam rodar o sistema medieval, o capitalismo mudou o eixo do mundo, tornando-o para todos os efeitos mais justo e menos arbitrário.

Porém as soluções que são discursos (e, no fundo, o capitalismo é uma construção arbitrária e artificial como o feudalismo) acabam gerando injustiças pelo menos tão atrozes quanto as que se prontificou a corrigir.

Coube a Karl Marx observar que as soluções de um mercado nominalmente “livre” acabam criando novas e severas formas de dominação e de alienação. O capitalismo traiu quase que imediatamente as boas intenções do seu discurso. O poder que atribuiu ao mercado acabou transformando o desejo numa força disciplinatória e coerciva ao invés de (como gostaria de ser e como se apresenta) libertadora e criativa. Por depender delas para se sustentar, o capitalismo patrocinou desde cedo (e cada vez mais) a alienação, a exploração e a exclusão em todas as suas formas. Aprendeu a aplacar o homem com a satisfação de necessidades menores, ao mesmo tempo em que mantem o sistema rodando pela introdução de necessidades novas e artificiais; essas, uma vez legitimadas pela adoção dos ricos, geram desejo nos menos ricos, que gastarão a vida tentando acompanhar os que se mostram melhores consumidores do que eles. Enquanto todos correm em perfeita sincronia atrás do que não precisam, passando por cima dos que não tem, a distância entre trabalho e capital é perpetuada: a igualdade, a liberdade e a mobilidade social permanecem uma ilusão, e o poder descansa concentrado como na mais imperial das hegemonias.

Em outras palavras, o capitalismo forjou um novo script, e um capaz de sustentar uma realidade tão implacável e arbitrária quanto a medieval, ao mesmo tempo em que dá a impressão de que tudo está correndo do modo mais justo e natural.

O comunismo foi postulado para corrigir essas distorções, levando à sua consequência natural os princípios de igualdade pregados pelo Iluminismo. No mundo ideal projetado por Marx a propriedade privada continuava a existir, mas os bens de produção – cujo monopólio, explicava ele, acaba perpetuando a desigualdade feudal – passavam a pertencer a todos. Neste mundo cada um trabalharia num espaço produtivo e criativo que seria muito literalmente seu, reaproximando o trabalhador do fruto do seu trabalho e anulando a força degradadora da alienação pessoal e coletiva.

Tratava-se de um projeto belíssimo e com um impecável embasamento teórico; porém, como se sabe, as tentativas revolucionárias de se implantar o comunismo produziram sucesso (para dizer o mínimo) questionável. Com ainda mais rapidez e intensidade do que o capitalismo, o comunismo revolucionário traiu suas boas intenções e foi utilizado como ferramenta de dominação e de exploração. O poder permaneceu concentrado, a continuidade do estado de coisas passou a depender da propaganda mentirosa e da intimidação, e a frustração coletiva diante das falhas do sistema acabou produzindo alienação em grau pelo menos tão devastador quanto a que gerava o capitalismo.

O comunismo, nascido na denúncia apaixonada das ideologias, havia se tornado apenas mais uma, gerando seu próprio script ideológico e seu próprio mundo condicionado e alienante. O primeiro projeto humano que propunha a implantação deliberada e generalizada de um mundo justo passou a representar, para muitos, sinônimo de abominação e de terror.

É uma história que ainda não acabou, mesmo porque que desenvolveram-se nesse intervalo muitas estirpes de socialismo e de capitalismo, algumas das quais aprenderam a sentar-se na mesma mesa para conversar. Por outro lado, capitalismo e comunismo ficaram conhecidos pelo modo praticamente oposto com que propõem-se a defender os mesmos princípios de liberdade e de igualdade. Uma resolução desse conflito (e da resultante polarização) parece pertencer a um horizonte distante.

O que ficou demonstrada, no entanto, é a capacidade humana de torcer o mais equilibrado e bem-intencionado dos discursos de modo a moldá-lo em ferramenta de dominação e exploração. O projeto que foi estudado à minúcia para garantir a justiça será fatalmente usado para perpetuar o seu oposto. Nossa intenção de salvar acaba matando, e o sonho de remendar acaba rasgando. Num livro de 1995, Howard Bloom dá a essa tendência contraditória e irresistível o nome de Princípio Lúcifer:

Um resultado: nossas melhores qualidades acabam despertando o pior de nós. De nossa ânsia em reunir e consolidar vem nossa tendência a separar e destruir. De nossa devoção a um bem maior vem nossa propensão às mais vis atrocidades. De nosso compromisso com ideais elevados vem nossa desculpa para odiar. Desde o princípio da história temos sido cegados pela capacidade do mal em assumir um disfarce de abnegação. Temos sido incapazes de enxergar que nossas qualidades mais admiráveis conduzem-nos muitas vezes às ações que mais abominamos: assassinato, tortura, genocídio e guerra.

Não será mero exagero ou retórica associar essa tendência (de usar o que é bom para perpetuar o mal) a Satanás, porque num sentido muito profundo essa tendência é Satanás. René Girard sugere algo parecido quando explica os mecanismos de demonização e de vitimização que mantem as sociedades ao mesmo tempo apaziguadas e injustas. Apegar-se a boas intenções que acabam produzindo terror e injustiça não é só coisa do diabo; esse processo, aparentemente, é o próprio diabo, e não pode ser revertido ou contornado por qualquer discurso acessível aos homens. O capeta se esconde nos nossos sonhos mais elevados e nas demandas mais puras.

Jesus, o não-condicionado, aparentemente não ignorava essas coisas, porque recusou-se consistentemente a articular um discurso. Não chegamos a conhecer sua “proposta”, o reino de Deus, por algo além de comparações e parábolas (que não permitem compreensão mais do que transversal), e pela sua própria e irrepreensível conduta. Grande parte da sua vida foi dedicada a denunciar e condenar os scripts institucionais de dominação, porém ele mesmo não rebaixou-se a sugerir um discurso substituto, porque sabia que qualquer ideologia pode ser (e será) usada como ferramenta ideológica nas mãos de Satanás1.

O que Jesus deixou-nos como herança é o reino de Deus, um local ou condição que não pode ser adequadamente descrito ou atingido. O reino está em perpétuo tornar-se, em perpétuo devir, e espreita “dentro de nós” e “entre nós” aguardando o momento de ver Satanás despencando como um relâmpago. O reino de Deus não pode ser fundado nem implantado nem articulado nem encontrado; só pode ser buscado, e diz-se que para os que o buscam – e para os tocados pela sua obsessão de dividir – todas as coisas serão acrescentadas.

Disponível em http://www.baciadasalmas.com/2010/capitalismo-socialismo-alienacao-e-o-capeta/


Avisos

Amados irmãos,


O Pastor Anselmo informa a todos a programação dos cultos que serão realizados no templo sede no próximo domingo dia 26/09:

1º Culto (17h00 - 16h50)
Direção: Dc. Moisés Prudente
Preleção: Pr. Edmilson
Grupos escalados: Irmãs El Shaday e Orquestra Manancial

2º Culto (19h00 - 21h00)
Direção: Dc. William Neves
Preleção: Pr. Anselmo Fernandes
Grupos escalados: Júbilu's e Renascer da Primavera


Informamos também que NÃO haverá Ceia e nem a reunião de Ministério no dia 03 de outubro próximo.

A Ceia será realizada no dia 10 de outubro, segundo domingo.

Domingo - 17 de janeiro de 2010

Queridos irmãos,



A partir de agora todos os anúncios da nossa igreja estarão disponíveis aqui no blog da igreja. Qualquer solicitação ao secretário deverá ser feita através do link "Fale com o secretário", que se encontra aqui ao lado.

Passem adiante esta informação! Àqueles que não tiverem acesso, ou não souberem utilizar a internet, informem que o Pb Júlio está auxiliando a diretoria todos os dias, na Sede, Av. Monte Castelo 870, das 07:00 às 16:00, colocando no blog quaisquer solicitações dos irmãos.



Em Cristo

Roberto Rodrigues Costa
Diácono Primeiro Secretário